segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Faze o que tu queres = Do it yourself





Segundona. 10 da noite. Não sei porque mas são nas segundas que mais tenho vontade de escrever, talvez pra contar um pouco do meu fim de semana que normalmente costuma ser muito mais interessante que o resto da semana. Noite de verão chegando. Todos na rua praticando algum tipo de esporte. Esse é o Rio de Janeiro que conheço. Praticar esportes acima de qualquer coisa. Dizem que a endorfina é uma droga poderosa, que nosso corpo produz e sempre quer mais. Para um cara que tinha no álcool um dos objetos de devoção de sua revolução pessoal, praticar esportes parece ser uma nova maneira de Tentar Outra Vez.





Falando em revoluções pessoais, vejo muitas mudanças na vida das pessoas mais próximas. 2 amigos mudando de cidade por conta de emprego e um outro em vias de largar seu trampo. Tudo muito novo. Tudo meio diferente. O verão ta chegando e também não quero perder o bonde. É necessário ter a motivação necessária pra traçar novos planos, sentir que não estou parado.






Não sei por conta dos shows que vi nesse ano, de bandas que me acompanharam em diversas das minhas revoluções pessoais, mas esses tempos foram bons pra lembrar de alguns momentos importantes em que tentei mudar o curso do trem da minha vida. No final de tudo, mesmo talvez com menos dinheiro, um pouco mais de stress, mas acredito que minha alma dormiu de maneira tranquila, porque tudo que procurei fazer em muitos momentos foi apenas tentar me encontrar. Buscar a minha identidade, procurar ser o que sou. E a vida vai seguindo. Serei sempre um sujeito feliz se sempre puder ter força de enfrentar novas revoluções pessoais no momento em que me ver perdido, trancado, fazendo uma coisa que não gosto, só porque alguém mandou. A vida é uma só...






É cada vez mais forte na minha mente ideais como os da Igualdade, Fraternidade e Liberdade, expressos nas cores da bandeira francesa. Respeite as minorias, as mulheres, os gays, os negros, o rock, era o que dizia a Revolução Cultural dos anos 60. Faze o que tu queres, há de ser tudo da lei, de Raul Seixas tem o mesmo significado para mim que o lema punk do "it yourself".






Aproveito pra dizer que meu fim de semana, apesar do calor no Rio, foi regado de vibrações sensoriais trazidas por filmes americanos de baixo orçamento dos anos 70. Por módico 1 real, vi filmes que mexeram comigo, que me deixa cada vez mais insaciado na busca por filmes que me tragam um pouco de sentido nessa vida que passou por tantas revoluções mas ao mesmo tempo precisa de mais...Os filmes Corrida Sem Fim, Procura Insaciável e Bob & Carol & Ted & Alice me surpreenderam de maneira tão intensa como Brown Bunnie, Beleza Americana e Up in the Air. Cada vez fico mais surpreso com a cultura dos anos 70...Incrível como os cineastas conseguiam falar de temas tão densos. Talvez porque eram independentes, assim como a maioria das bandas que eu gosto começaram...Do it yourself

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Shows de 2010 e o rock alternativo na minha vida

Enfim terminou a temporada de shows de 2010, pelo menos para mim. Alguns meses de tensão e expectativa, mas tudo realizado maravilhosamente bem conforme planejado. Tirando a performance do Phoenix que conseguiu me encantar também por conta da interatividade do vocalista com o público, todos os outros shows tiveram um impacto especial muito por conta das lembranças da época em que muitas dessa bandas inspiravam minha vida.





Por exemplo, falar de Smashing Pumpkings me remete à época do colegial, quando o rock começava a ter uma importância maior para mim. Posso dizer que 1979 está na minha lista de músicas mais marcantes de todos os tempos, muito porque trazia um pouco do universo indie que logo depois entraria de cabeça. Tudo numa época em que era difícil achar música boa nas rádios, tempos em que o jabá era que comandava a programação.






Belle & Sebastian e Yo La Tengo já me remetem à época da faculdade, em que a leitura de jornais servia como uma maneira mais fácil de conhecer novas músicas, já que as rádios ainda eram resignadas em tocar algo mais independente nas rádios. Lembro que foi numa época em que fazia estágio na VR, que controlava a Trama, gravadora que apoiava diversos artistas nacionais e lançava vários discos de bandas alternativas que dificilmente teriam lançamentos no Brasil. Lembro que como estagiário conseguia desconto nos cds. Numa tacada só, comprei um monte de discos dessas bandas, que passaram a comandar a programação do meu dial. Foi legal ver no sábado o Kid Vinil apresentando as bandas no festival. Esse foi um dos caras que eu mais pegava dicas de bandas, já que na época ele comandava o Lado B na MTV e a programação da Brasil 2000, além de ser diretor artístico da Trama.





Já Air é uma influência direta do Adriano, que durante nossas viagens a partir do final da faculdade sempre punha o disco Moon Safári. Eu que sempre achava que eletrônico não era pra mim, me rendia para aquelas melodias densas mas ao mesmo tempo tão belas. Nessa época era o mp3 que já comandava minha vida, e foi fácil conhecer muitos discos deles. Ter visto Virgens Suicidas, com a trilha sonora deles me fez ver de como era legal um filme que privilegiava uma trilha sonora diferenciada.





Já Phoenix e Of Montreal me remetem há coisa de 5 anos atrás, época que conheci a Ju, em que as rádios digitais começaram a rolar por nossas bandas. Durante muito tempo comecei a ouvir a Woxy, dica do maleta do Álvaro Pereira Jr, que apesar disso, de vez em quando passava ótimas dicas. Logo de cara me interessei muito por Phoenix e Of Montreal, que agora, alguns anos depois, conseguem emocionar milhares de pessoas no Planeta Terra.





Mas a descoberta mais inesquecível mesmo do indie rock, que teve uma importância ímpar na minha vida, assim como Demian teve para Sinclair, foi quando tinha 14 anos. Estava num momento turbulento na minha adolescência, meio que isolado, num meio de um monte de gente que não gostava. De repente, mudo de período na escola e volto a ter amizade com os Gêmeos, considerados os loucos da rua. De repente ser o melhor da classe basicamente deixou ter importância. Estar com meus amigos era a coisa mais importante daquela época. Viajar com eles e um monte de outros amigos pra Ubatuba era o que agora me importava. De repente, nas tardes pós praia, junto às leituras de Bizz e revistas de Surf, os Gêmeos, mesmo curtindo baladinha, me vinham com alguma coisa vinda dos irmãos mais velhos deles, apaixonados por rock. Foi lá que descobri uma música bem diferente do que ouvia em SP, sei lá, menos urbana, mais próxima de low-fi. Um som de praia. Foi lá que descobri Paralamas de uma maneira tão intensa como naquele disco Arquivo. No ano seguinte, acho que já com 16, de repente, meus amigos me mostram Hey, Gounge Away e Monkeys gone to Heaven. Quando comecei a prestar atenção naquela melodia de Hey, me senti assim como o Bucha disse tempos atrás. Os caras tocavam um tipo de som que não sei porque se encaixava perfeitamente com aquilo que eu queria ouvir.






Nessa mesma época em Ubatuba conhecemos uma outra galera que curtia rock e Pixies também. Eu, como sempre curioso, pergunto pra eles o que havia de parecido com Pixies. Eles me falam de Pavement. Já no ano seguinte, no curto período que trabalhei numa locadora de CD, descubro o disco que tinha Cut your Hair do Pavement, junto com Nada Surf e Weezer. Sim em 97 já sabia do que gostava. Tudo que veio após pra mim meio que tinha que se encaixar nesse rock melódico de guitarras no talo que de repente descubro nas bandas indies americana. O resto é resto.


sábado, 6 de novembro de 2010

Outubro Intenso

Após uma semana pós feriado de muito sol aqui no Rio, temos novamente um sábado chuvoso por aqui. Enfim estou em casa tranqüilo. Momento pra lembrar que há tempos não posto nada no blog. Infelizmente não consegui postar a tempo um texto sobre o Pixies, por conta da vinda do show deles no SWU, que foi inesquecível, da mesma maneira quando eles vieram em 2004 e que foi tão importante naquele momento da minha vida. Meses depois daquele show, largava o mestrado e descobriria os encantos do Sul e do Planalto Central.

Espero futuramente falar mais sobre o Pixies, talvez a banda mais importante da minha vida. Enquanto isso, ponho pra tocar La la love you, o som que mais me marcou naquela noite de Itu...





Além do SWU, praticamente viajei todo fim de semana, muito por conta dos feriados, mas também em razão de algumas confraternizações com os amigos, como o casamento do Carlinhos e a reunião da turma da velha guarda em Atibaia. Também esse tempo foi marcado por algumas visitas no meu ap, bom pra sair pelos bares do Lapa e Botafogo, além de tomar umas com as visitas em casa. Nesse meio tempo passei um fim de semana em Ilha Grande. Muito bom a vilinha de Abrãao à noite.


Tempos de eleição e me surpreendi com as manifestações de preferência de voto na internet, e que muito me decepcionou sobre o nível educacional dos muitos que participam na rede. Me envolvi nas discussões a respeito da questão do aborto, sustentabilidade, privatizações, papel do Estado e da Igreja, evangélicos, Tropa de Elite.

Tempos que foi legal sair 2 sextas em Sampa com Alex, Diogo, Playmobil, Bucha e Paulão. Bom sentir como a cena musical paulistana está quente e com tanto som bom rolando lá pelo Baixo Augusta, com Tapas e Talco Bells. Algo tão cosmopolita que poderia ta rolando em qualquer lugar do Mundo. Também foi muito bom beber e conversar com amigos que fazia tempo que não ficava até a madrugada, como foi no feriado em SP quando troquei altos papos com minha irmã, Celso e Ju. Numa das outras madrugadas, com muita cerveja, falei sobre yoga e budismo com o Mequetrefe, amigo das antigas, do violão, que há tempos não via e foi resgatado pelo Edu. Numa hora ele me fez acompanhar seu gesto que me lembrou do desenho que Sinclair ganhou de Sidarta, nome do livro que li nesse ano que tanto me trouxe inspiração de vida. Aproveito pra por a música daquela noite, que consegui fazer um solo magistroso, e me deu vontade de me envolver novamente com o violão. Mapa do Meu Nada, Cássia Eller.

Doido desejo chupando dedo num beco
cheio de bêbados trêbados
Chutando os prédios, pregando prego no prego
Réu da razão, do suplico, cuspe fútil
Nessa estrada cariada
Só você é o meio-fio de luz
Contramão sinalizada
No mapa do meu nada
Canção emocionada
Trajeto por teus fios







Em diversas dessas conversas veio a tona o momento do meu questionamento sobre algumas coisas na minha vida, como a tensão do meu trabalho e a solidão do Rio. Parece uma energia saltando de mim, que já não aceita mais o mundo kafkaniano que parece que me meti. Burocracia, conservadorismo, superficialidade, estabilidade, individualismo. Fazer coisas que eu não gosto, só porque alguém mandou, como diz a música Sapato 36, que toquei na festa de Atibaia e que fez muito sucesso por lá, talvez por conta da presença do meu pai naquele momento, no meio de tantos jovens de 30 e 40 anos...Inclusive toquei essa música por conta do bar que eu fui na Lapa em que pedi pra Tocar Raul e os caras me vieram com esse som, mais Meu Amigo Pedro e SOS.


Pai eu já tô crescidinho
Pague prá ver, que eu aposto
Vou escolher meu sapato
E andar do jeito que eu gosto
E andar do jeito que eu gosto
Por que cargas d'águas
Você acha que tem o direito
De afogar tudo aquilo que eu
Sinto em meu peito
Você só vai ter o respeito que quer
Na realidade
No dia em que você souber respeitar
A minha vontade








E olha que coincidência. Presto atenção na letra de um som rolando na vitrola. Outro sonzasso da Gal que descobri há pouco tempo:

Pois agora vou recomeçar
E daqui pra frente eu vou mudar





Aproveito para por o som Meu nome é Gal, que tocava enquanto escrevia esse post. Admiro todos eles também:

“Meu nome é Gal, tenho 24 anos
Nasci na Barra Avenida, Bahia
Todo dia eu sonho alguém pra mim
Acredito em Deus, gosto de baile, cinema
Admiro Caetano, Gil, Roberto, Erasmo,
Macalé, Paulinho da Viola, Lanny,
Rogério Sganzerla, Jorge Ben, Rogério Duprat,
Waly, Dircinho, Nando,
E o pessoal da pesada
E se um dia eu tiver alguém com bastante amor pra me dar
Não precisa sobrenome
Pois é o amor que faz o homem."


sábado, 18 de setembro de 2010

Gal Fatal 2 - Jards Macalé e, Bruxelas






No primeiro post sobre o Disco Gal Fatal, termino falando a respeito de uma música de Jards Macalés, Mal Secreto, que descobri apenas esse ano, mas tem me encantado tanto como diversas outras músicas desse disco. Descobri Macalé após uma entrevista que li na revista Rolling Stones enquanto estava no trajeto de trem de Bruges pra Bruxelas em junho desse ano. Na reportagem, Jards Macalé conta de sua viagem para Londres numa visita a Gil e Caetano durante o exílio e seu primeiro contato com o mundo lisérgico dos festivais da Inglaterra daquela época. Claro que essa reportagem fala a respeito do disco Gal Fa-tal, na qual Jards Macalé tem grande participação.





Não sei porque também, foi em Bruxelas o lugar que mais escutei música brasileira nesses últimos tempos, por conta da sensação de brasilidade dessa cidade, talvez por sua arquitetura decadente e suas ruas desordenadas da Cidade Baixa, que me remeteu a Bela Vista em São Paulo. Uma antítese urbanística de Paris, apesar da influência francesa nos palácios e jardins da cidade. Essa lembrança do Brasil também pode ter sido por conta da enorme influência africana em Bruxelas, assim como por conta dos prédios espelhados da cidade alta, muito parecida com a modernidade que encontramos na nova região econômica de SP.








Também acho que ajudou a me encantar por esse disco, o fato de no dia anterior ter entrado pro jogo do Mario Bros, o que intensificou meu encontro com surrealismo de Magrite e outras belas artes flamengas. Escutei esse disco da Gal sob todas essas influências. Talvez por conta do ambiente e momento de sua descoberta, o disco acaba tendo uma importância ímpar, assim como foi com o disco Ben, que escutei suas músicas pela primeira vez com uma turma de violeiros em frente a uma das igrejas de Ouro Preto.







Jards Macalé tem outras 2 músicas nesse disco. Vapor Barato já conhecia, é famosa na versão do Rappa, que nunca achei nada demais. Mas no disco da Gal parece que ela tem seu valor sim. Ontem, na Casa da Matriz, tocou a versão do Rappa. Foi mais legal ouvir essa música depois de me acostumar com a versão de Gal...é bom ouvir e cantar o trecho “Eu não preciso de muito dinheiro, graças a Deus...”






Já em Hotel das Estrelas, como Mal Secreto, parece que esse som foi criado tudo sob a influência de Londres, de Jimi Hendrix. O baixo começa, silenciosamente. É um blues. Lento... E o refrão é bem animado, bem ao estilo dos Mutantes.





“Olhar a cidade me acalma... Rio e também posso chorar...”

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

É proibido fumar, Anos 70 e Jorge Ben





E estou orgulhoso da minha performance cinéfila. Nas últimas semanas venho vendo muitos filmes como há muito não fazia. Após rever Táxi Driver, sábado à noite passou no TCM uma sequência de Brian de Palma que ainda não tinha visto. Vestida para Matar e Carrie, a Estranha. Aproveitei a seqüência setentista e ontem assisti o Massacre da Serra Elétrica. Achei esses 3 últimos filmes muito interessantes, apesar dos roteiros pouco criativos, talvez por serem voltados a adolescentes das década de 70. Mas gostei da tensão. Da lentidão como as cenas acontecem, do suspense, da câmera. Não sei, mas sinto que os filmes atuais são muito dinâmicos. Perde-se as pequenas coisas que conseguimos entender apenas naqueles momentos em que se aprecia a cena, a conversa, o silêncio.






E por falar nos 70, ontem também revi É Proibido Fumar, filme que foi muito premiado ano passado e teve certo sucesso nos meios mais engajados do cinema nacional. Apesar do tema do cigarro ocupar certo espaço, na verdade o filme trata mais de um tipo de relação, que assim como o cigarro, cada vez mais vai se perdendo com o profissionalismo do cotidiano, com seguranças ao invés de porteiros. Por essa volta ao passado, muitas cenas do filme remete a minha infância, nos anos 80, como no diálogo entre as irmãs, a vizinhança, a família, as festas nas salas da família. Baby, interpretada por Gloria Pires, é professora de violão. Me lembrou muito as aulas que tive de piano ainda criança.










O filme também faz uma homenagem particular à música dos 70. O filme começa justamente com um dos sons que mais gosto: Taj Mahal, mas a versão setentista, no violão, que adquire um ritmo único, com maior intensidade, maior vibração. Inclusive a versão do filme é do disco que Jorge Ben fez com Gil, que já falei num post anterior. Logo depois, Max, interpretado de maneira impecável por Paulo Miklos, toca no violão e canta de maneira titânica Chove Chuva e, quando interrogado por Gloria Pires, põe na vitrola um clássico obscuro de Jorge Ben dos 70, Que Nega é Essa...Depois, durante uma conversa, Max diz o seguinte:







“Os anos 70 foram o futuro. E ai passou 40 anos e o que? O mundo voltou pra traz... A gente está vivendo o passado de novo... Eu vi o Rei jogar. Não é um bando de balofo, trocando de time toda hora. É amor à camisa...” e começa a tocar: “ o amor do príncipe Shah-Jehan pela princesa Mumtaz Mahal. Te, te, tererete,.”






Já tinha ouvido falar muito dessa história. Mas depois que escutei pela primeira vez um disco do Jorge Ben dessa época e os outros que fui descobrindo, como os discos de Tim Maia, Caetano, Gal, tudo parece realmente se encaixar. A música realmente era algo grandioso, que não sei porque me atinge quase que de uma maneira religiosa. Parece que escutar Jorge Ben me faz acreditar mais em Santa Clara, Santo Thomas de Aquino e São Jorge. E inclunive, uma das mais tocadas no Ipod atualmente é uma música chamada Deus é Amor, de Jorge Ben, cantado por Gal.

“Deus é a vida. A luz e a verdade. Deus é o amor. A confiança e a felicidade”.






Quem lê parece um sermão religioso. Mas na versão de Jorge Ben, tudo vira um hino, uma festa black.

Me identifiquei também com outras cenas no filme. Num outro diálogo, Baby diz que prefere Chico, que é politizado e tal. Daí Max comenta algo que sempre pensei. “O Chico é muito devagar, lento...” Sempre tive essas discussões musicais e políticas... Em outra parte Max ta tomando um café, falando sobre futebol na padaria de esquina de Pinheiros de SP. Quem já tomou um cafezinho despretensiosamente numa padaria de bairro de São Paulo vai entender o que estou falando...





No figurino, mais uma homenagem aos anos 70, dessa vez através de camisetas que Max usa, com o símbolo da boca do Rolling Stones, da banana do Velvet Underground, além de um Jaqueta de Jimi Hendrix.




Enfim. 2ª vez que vejo esse filme, e saio tão bem quanto na primeira vez. Fazia tempo que uma ficção brasileira não me deixava tão entusiasmado. Tudo bem. O Cheiro do Ralo e Árido Movie são tão geniais quanto. Mas esse teve Jorge Ben dos 70 como trilha do filme. Não tem como não ser especial. E o filme é feliz, trata de 2 pessoas que parecem que ainda vivem nos 70, apesar do mundo ter mudado, o que no caso de Max, ainda não voltou aos níveis de 70. E parece que ele está certo. Olhando o filme parece que algumas coisas que hoje não damos muita importância, era muito valorizada antigamente, como no caso de Baby brigando pra conseguir herdar o sofá da tia.


Enquanto isso, continuo varrendo o baú dos 70, que como Diogo disse parece ser o foco do blog.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Gal Fatal 1 - Como 2 e 2 e Mal Secreto





Tive acesso ao Gal Fatal no começo desse ano, quando mais uma vez vi esse disco numa lista dos 100 mais da MPB. Logo de primeira me interessei pela música Como 2 e 2, que lembro de ter ouvido outras vezes, mas ficou perdida junto com tantas outras coisas do passado. Nas semanas seguintes virou meu hit. Quis mostrar pra todo mundo, como todo tipo de música que te vicia. Alguma coisa me dizia que era do Caetano ou do Roberto como dia desses confirmei. Teve um impacto parecido com Tigreza, som do final dos anos 70 do Caetano, fator chave na minha tentativa de sua redescoberta.







Como 2 e 2 foi cantada por Gal no período que Caetano estava no exílio em Londres. Essa música já incorpora um pouco da alegria melancólica das canções do rock inglês do final dos 60. Há duas versões dessa música no Fatal. Uma é mais MPB. Leve, meio adolescente...Já a segunda versão o baixo traz o silêncio melancólico do blues junto com um uma melodia doce. Como em muitas músicas desse disco, é aquele tipo de som que dá vontade de fechar os olhos e pensar que dia ta lindo lá fora e lembrar que minha bike está me esperando pra dar uma volta pela praia.







Mas o som que me marcou profundamente nesse disco, como há muito tempo não acontecia, é Mal Secreto, do Jards Macalé e Wally Salomão, que tanto já tinha ouvido falar. O som já começa bombástico, com um baixo vindo do funk americano, uma harmonia flower power e uma guitarra do mais puro blues. Tudo tão próximo da música americana do final dos 60. Porém a música traz alguma brasilidade que não sei explicar, sugerindo que estamos no Rio de Janeiro do início dos 70. Com a interpretação de Gal os versos ganham mais intensidade. Tudo fica tão denso, como um grito de Janis Joplin. A música adquire um sabor diferente. O final é um hard rock clássico dos anos 70. E fecha com um blues novamente. Parece que a música foi feita pra mim...





“Não choro. Meu segredo é que sou rapaz esforçado, fico parado, calado, quieto. Não corro, não choro, não converso. Massacro meu medo, mascaro minha dor. Já sei sofrer. Não preciso de gente que me oriente... Se você me pergunta. Como vai? Respondo sempre igual, Tudo legal...



Mas quando você vai embora, movo meu rosto no espelho. Minha alma chora. Vejo o Rio de Janeiro....Veja o Rio de Janeiro... E tudo mais jogo num verso. Intitulado Mal Secreto...Veja o Rio de Janeiro...Veja o Rio de Janeiro...”


quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O Segredo do Maluco Beleza. Só para os Loucos. Só para os Nobres





Falando sobre o novo post da Mecenas,Alex me pergunta como anda o blog. Digo que ta parado, que esse mês ta puxado. Muita coisa no trabalho e sozinho em casa, com um monte de coisa também pra fazer em casa, afinal Ju chega só na sexta. Digo para o Alex que tenho alguns textos mais ou menos prontos, que precisam ser editados, como os posts da Gal e o do Raul. Alex comenta a que ta muito a fim de ver o post do Raul, já que sabe que eu manjo bem do cara. É verdade. Conheço Raul desde os meus 10 anos de idade. Lembro que com 11 anos cantava Gita na escola e fui aplaudido pela turma. Não tocava violão ainda. Só foi na voz, o que me traz uma lembrança de que de alguma maneira, naquela época tinha algum destaque na escola, apesar de ser o melhor da classe.







Lembrando nisso, me vem sempre a mente que falar de Raul é como se estivesse numa sessão de terapia. Tenho que voltar à minha pré-adolescência pra falar das grandes músicas do Raul, que conheci através das diversas coletâneas em fita cassete, que eram tão famosas na época em que CD era raro e LP meio caro...Enfim. Conheci todos seus clássicos e suas músicas obscuras, que inclusive durante muito tempo eram minhas preferidas. Acho que foi por conta das músicas lado B do Raul que comecei a gostar de coisas mais de lado B na música em geral. Ou Tábua de Esmeraldas e Weezer não seriam um Lado B?







Bom, sem entrar no mérito das canções e dos discos, principalmente os 4 primeiros LPs em carreira solo, Krig Há Bandolo, de 73, Gita, de 74, Tente Outra Vez, de 75 e Eu nasci há 10 mil anos atrás, de 76, que merecem diversos posts, o que eu gostaria de falar nesse momento talvez é mais a respeito da maneira que vejo a importância de Raul para mim comparando com a importância que ele tem para a música brasileira e talvez para a cultura nacional. Tirando o sucesso dele que vemos nos anos 70, que não foram suficientes para ele manter uma carreira estável na década seguinte, conforme foi passando o tempo, Raulzito passou a ser objeto de devoção para uma turma mais bicho grilo. Entretanto, Raul nunca foi muito exaltado pela crítica cultural nacional. Os descolados que descobriram agora o Racional do Tim Maia, sempre tiram um barato do “Toca Raul”. Porém, talvez nos últimos anos vemos que a crítica musical dá muito mais valor para seus discos, que sempre estão entre os melhores da música brasileira.






Na literatura, é muito interessante saber que nosso escritor mais vendido no mundo, Paulo Coelho, foi o grande parceiro de Raul durante os 4 primeiros e grandes discos do Raul. Porém, por conta das críticas a Paulo Coelho em virtude da sua fragilidade literária e temas ligados ao esoterismo e à auto-ajuda, talvez essa parceria nunca foi tão valorizada pela crítica cultural brasileira. Minha preguiça na leitura nunca me animou a ler Paulo Coelho, como a maioria dos meus livros da minha estante, que como Raul diria, em Eu Também Vou Reclamar, “não dizem nada de importante. Servem só pra quem não sabem ler”. Por outro lado, atualmente ando numa fase mais voltada para valorizar meu corpo, minha mente, e seguindo os passos do amigo Bucha, penso que talvez valha a pena futuramente ler livros do Paulo Coelho, já que estou num momento de meditar, jejuar e esperar, conforme Sidarta, de Hermann Hesse.






Na minha vida, Raul permanece inevitável, principalmente nas rodas de violão que sempre surgem nessas horas com os amigos, após muita cerveja. Capim Guiné e Meu Amigo Pedro são clássicos nessas horas. Aliás, vem um monte de coisas legais e reflexivas quando toco Meu Amigo Pedro. A música fala de 2 amigos, que no passado viviam falando de coisas sobre o mundo. Porém atualmente um vive usando sempre o mermo terno, reclamando da solidão, e de que a vida é dura, enquanto o outro continua vivendo a sua loucura. Sempre olho para o meu irmão e acabo me sentindo o louco da história. Entretanto dia desses, era a Ju que me falava que era eu que sempre estava usando o mermo “terno”. Ou seja. É uma música que fala das nossas escolhas, que pra mim sempre marcou minha dualidade desde sempre. Ser o melhor da classe ou ser mais popular na escola? Olhando para trás, vi que sempre vivi nisso, até hoje. Vejo que está na minha mão a escolha de mais trabalho ou mais lazer. Depende só de mim. O que é melhor? Tem horas que acho que é o caminho do trabalho, tem horas que penso no lazer, como curtir essa madrugada escrevendo, algo raro em tempos árduos.






Inclusive, to no terceiro livro do Hermann Hesse, que trata do mesmo assunto, essa dualidade humana, que temos que indubitavelmente ter que encarar em diversos momentos da nossa vida. Raul acho que ta mais para o Lobo da Estepe, antes de encontrar sua grande Hermínia, já que acho que ele não teve tempo de valorizar talvez seu lado menos noturno. Agora to no livro Demian, o primeiro da trilogia de Hesse. A obra fala desse confronto do bem com o mal, como Raul Seixas falava em sua música“Trem das 7”. Ou seja. Raul traz muitas coisas da filosofia e misticismo oriental, que inclusive é título de sua mais importante música, Gita. Tudo a ver com o que atualmente estou procurando para ser uma pessoa melhor. To sentindo na ioga esse efeito. Raul faz parte disso. Desde meus 10 anos. Ta sempre na minha mente frases como “O que eu quero, eu vou conseguir...” ou “Coragem coragem se o que você quer é aquilo que pensa e faz. Coragem. Eu sei que você pode mais...” ou Tente Outra Vez. Um monte de gente pode dizer que é auto ajuda. Mas pode ter certeza que essas frases foram trilha sonora de muitos momentos desafiadores da minha vida. Muitos dizem que Raul é depressivo. Pode até ser. Mas ao mesmo tempo é denso, reflexivo, místico. E quando é utilizada para o bem, as reflexões fazem bem. Muita gente fala que filosofia nos faz melhor que sessões de terapia. Como Raul Seixas já dizia e ando lendo nos livros do Hermann Hesse, a gente consegue tudo aquilo que nós mentalizamos. Não tenho religião, mas sigo essa filosofia de vida.


Opa! Consegui publicar novo post. As custas da madrugada. 2 da manhã. Tudo bem. Raul gostava da noite. Eu também gosto...Inclusive ta no Jo um cantor que toca clássicos do rock. Acho que tem tudo a ver com o esse momento. Consegui fazer algo que pensava que seria impossível fazer essa semana. Como são as coisas...



segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Gil




Acabo de ver o documentário sobre Gilberto Gil no A&E. Talvez por conta do clima carioca, o interesse em relação à música brasileira tem voltado com atraente intensidade, o que me levou há 2 semanas sair emocionado do cinema após ver o documentário “Uma Noite em 67”, tendo Gil como um dos personagens principais do filme. Entretanto, no texto que escrevi sobre o filme, foquei mais na grande diferença estética, políticas e comportamentais entre Chico e Caetano ao longo do tempo, e que já aparecia em 1967. Isso acabou dando a impressão de que Gil ficava no meio do caminho, que não sabia de que lado estava, que de certa forma era verdade com relação à revolução das guitarras. Entretanto no filme inteiro Caetano faz questão de dizer que o grande mentor de sua performance durante o tropicalismo era Gilberto Gil.







Isso me lembra duas das declarações de Caetano que me marcaram. Uma, durante o Programa Livre, de Serginho Groisman, em que disse que não seria nada além que apenas um bom cantor, caso não conhecesse Gil. Se naquele momento, ele tinha alguma importância ímpar na música, devia inteiramente a Gil. Outra entrevista, acredito que não faz tanto tempo, Caetano dizia que não acreditava em Deus. Mas como Gil acredita em Deus, então ele passou a acreditar em Deus. Essa idolatria não pertence apenas a Caetano, apesar de Flora Gil dizer no documentário do amor que nutrem Caetano e Gil. Fernanda Takai, ainda nos anos 90 numa entrevista à MTV, dizia que na opinião dela Gilberto Gil era o grande artista da música brasileira.







Desde o tempo em que comecei a ter um pouco mais de noção sobre política e cultura, talvez a partir da época do cursinho, via que Gil antecipava assuntos que depois ganhariam a devida atenção popular, como foi com a Internet na metade dos anos 90 e as discussões a respeito dos direitos autorais e políticas de incentivo à cultura. Ontem mesmo durante o documentário falava-se que Gil foi um dos expoentes do ambientalismo no Brasil, numa época em que quem se preocupava com a questão era chamado de bicho grilo. Somando-se a isso, pela maneira harmônica com que conduziu o Ministério da Cultura, a partir de 2002, Gil já tinha virado meu ídolo, pela dedicação com que se envolvia com seus ideais.







Entretanto, musicalmente posso dizer que até hoje tenho uma certa dificuldade em apreciar as músicas Gil. Acho que esse é um típico exemplo de como minha relação com a MPB sempre foi conflituosa. Desde a época em que tomei conhecimento da importância de Gil, quando comecei a tocar violão, nada me fazia encantar com sua música. Era muito mais fácil por exemplo gostar de Djavan do que de Gil, apesar do Ricardo, meu cunhado, sempre tocar nas rodas de violão músicas como Drão e Palco. Mais gostava por conta do clima sempre bom de escutar música brasileira no violão do que propriamente algo intrínseco a mim, como foi o rock nacional durante certo tempo e o indie rock a partir dos 16, 17 anos. Por outro lado, via que Gil sempre estava perto de tudo aquilo que gostava. Já sabia que uma das músicas mais marcantes dos Paralamas e que serviu como divisor de águas na carreira deles, era “A Novidade”, feita em parceria com Gil. Reconheço também que Gil foi um dos que trouxeram o reggae pro Brasil no final dos anos 70. E foi um dos que apoiaram a axé music, que apesar de diversas críticas, é algo original, que representa uma das diversas faces da música brasileira.







Acho que minha dificuldade em entender Gil tem a ver um pouco por conta de sua brasilidade. Domingo no Parque você vê que é uma música que vem cheia de regionalismo por trás. Pelo documentário fala-se que apesar de Gil sempre estar ligado no rock inglês, sua grande influência sempre foi Luiz Gonzaga, ícone da música popular brasileira que sempre tive um pouco de dificuldade de entender, apesar de gostar de forró. Admito que ocorra talvez por conta da influência de viver numa cidade como SP, em que a música de fora acaba tendo mais importância que nossos regionalismos. Admito que talvez por conta disso, por sua influência americana, Jorge Ben continua sendo o ponto de intersecção mais fácil com a MPB. Escutar Jorge Ben foi a maneira mais fácil de descobrir as coisas boas de Caetano dos anos 70. Inclusive no livro de Caetano sobre o Tropicalismo tem uma passagem em que Gil dizia nos anos 70 que sempre gostaria de tocar violão da maneira que Jorge Ben tocava.







Aproveitei todo esse momento Gil pra ver o filme Doces Bárbaros no sábado, que já está em meu computador há algum tempo. Vendo calmamente, sob influência também de leituras que venho tendo do tropicalismo, como o livro Noites Tropicais do Nelson Motta. Gil é o personagem mais dramático desse filme. Estamos em 76. 4 anos após sua volta do exílio, Gil é preso novamente. Dessa vez em Florianópolis. Por conta de uma denúncia, acharam 2 baseados junto com ele. Ficou um mês preso e durante sua prisão, Gil mostra uma tranqüilidade de um zen budista no meio de uma guerra. Disse que sabia perfeitamente a diferença entre o bem e o mal e sabia perfeitamente em que posição ele se situava. Em seu julgamento, foi considerado dependente químico, o que o levou para uma clínica de reabilitação. Pelas histórias que as pessoas contam no documentário, parece que foi barra esse momento. Nesse filme, temos uma declaração de Gil arrebatadora, digna de colocá-lo junto aos grandes ícones libertários da década de 70 no mundo todo. Chico conta no documentário que durante a primeira prisão de Gil, em 69, que o levou para o exílio, havia uma preconceito muito forte com relação a Gil, por conta dele ser negro e de suas idéias revolucionárias para aquele momento conturbado. Já durante o filme Uma Noite em 67, vemos nas declarações de Gil a postura intelectual diante dos reporters da TV Record, com um discurso nitidamente anos luz a frente das declarações esquerdistas e jovem-guardista da época.







Impossível não falar de um dos discos mais obscuros da música brasileira nos anos 70. Feito por Gil e Ben em 74,o Gil e Jorge, Oxum Xango, que por conta da Internet, voltou a tocar nos mp3 players dos ouvidos mais antenados com o passado. Acho que escutei ele pela primeira vez há uns 5 anos. Nunca consegui gostar muito, mas sempre lia nos blogs que era um disco foda, mas tinha que ter muita calma para entender um disco como aquele. Como são as coisas. Estava entediado nesse sábado, numa feira de roupas no Jockey e não é que começo a escutar do lado de fora de uma loja a música “Meu Glorioso São Cristóvão”, desse disco de Ben e Gil? Sim. Acho que foi um dos sons desse disco que tinha mais me chamado a atenção. Voltei pra casa e a primeira coisa que fiz foi por pra tocar no I-pod esse disco de uma hora e meia de duração. Foi delicioso escutar a mistura de ritmos daquele disco. Música baiana junto com a carioca. Candomblé de Gil, com referências católicas e africanas de Ben. Uma mistura musical que pra mim de tão obscuro, mas ao mesmo encantador, tinha algum sentido esotérico, assim como a Tábua de Esmeralda de Ben e outros de seus discos da época, como bem pude comprovar numa noite de lua cheia em Ouro Preto, numa roda de violão em que uns mineiros só tocavam outros sons setentistas de Ben.

Não tem como pensar em “Esotérico”. Música de Gil que conforme eu vou ficando mais velho, mais vou gostando, mais me identifico com ela. Mais acredito no que ela diz. É assim como me apresento quando alguém pergunta minha religião. Digo que sou esotérico..





“Mistérios sempre há de pintar por ai.”

“Até que nem tanto exotérico assim. Se eu sou algo incompreensível, meu Deus é mais”

Bom. Sigo escutando Gil. Aos poucos to descobrindo coisas boas da música brasileira. Nesse mês por exemplo, descobri muitas coisas legais de Chico Science. Algo inconcebível alguns anos atrás. O caminho é tortuoso, muitas vezes difícil de se achar. Mas cada vez mais admiro essa história da música brasileira. Um dia entenderei melhor esses regionalismos brasileiros. Tem coisas que acho que só mais velho pra entender...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O Coadjuvante, celebridades no futebol e o time do Semestre




26 do segundo da final da Copa do Brasil. Vitória x Santos. 1 x 1. Quase terminando o jogo e segunda vez que eu ouço falar do Robinho. A volta dele teve muito menos impacto que a volta do Ronaldo pro Corinthians. Durante a Copa do Mundo foi a mesma coisa. O Robinho aparecendo mais na marcação que no ataque. O único momento que o cara me chama a atenção é quando faz aquela cara feia no começo do jogo contra a Holanda. Coisa de poucos anos, Robinho era o craque de 2 campeonatos brasileiros.

Agora Robinho aparece mais nas manchetes das colunas de fofocas do futebol e nas propagandas de TV. Parece que vai voltar pro Manchester City, time de segunda categoria na Inglaterra. Mais ou menos como Ronaldinho, o astro pop do Milan, que não brilha desde antes da Copa de 2006 e está por cima em tudo aquilo que chamamos de entretenimento. Kaka mesma coisa. Cristiano Ronaldo chegou a virar estátua numa propaganda da Nike.

São as estrelas do futebol. Que valem mais que a maioria dos times que disputam os campeonatos da primeira divisão. São aqueles sortudos, que brilham durante um ou dois campeonatos e conseguem ser estrelas por muito mais tempo, o suficiente para virar uma celebridade. São como as estrelas de Hollywood, que acabam aceitando os piores papéis pra entrarem nas mega-produções se tornando cada vez mais famosos, cada vez menos interessantes.

Não sei porque, mas me vêem à mente estrelas como Maradona e Mike Tyson nos anos 80 e Michael Jordan, Romário, Ronaldo e Michael Schumaker na década de 90. Ao contrário das estrelas atuais, as celebridades esportivas de épocas não tão distantes eram grandes vitoriosos antes de chegarem ao estrelato, com uma história de sucesso muito maior que a das celebridades atuais. Como é fácil hoje em dia ser astro. Como é difícil nossos astros conquistarem alguma coisa...

40 minutos do segundo tempo. Robinho acaba de sair do jogo. Sua última partida antes de voltar pra Europa. Parabéns ao Santos. Realmente merece o título após a brilhante campanha do primeiro semestre. Sim. Esse time foi melhor que o encantador palmeiras de 2006,campeão paulista, que porém perdeu a final pro Cruzeiro no campeonato principal do semestre. Parabéns Neymar! Parabéns Paulo Henrique Ganso! Quem sabe não seriam craque da Copa? Parabéns Dorival Jr! Coadjuvante como jogador e dando a volta por cima como técnico, em seu segundo título de expressão, seu primeiro título nacional! Parabéns ao bom futebol! Parabéns Alex!

domingo, 1 de agosto de 2010

Uma Noite em 67, Tropicalismo e o verbo Caetanear




Capa bombástica da revista Bravo sobre o filme “Uma noite em 67”, lançado nesse fim de semana. Na foto, Caetano, Chico e Gil durante o festival de música da Record de 67. Caetano à esquerda. Chico à direita. Gil no centro. Caetano com uma roupa transgressiva, lisérgica, idêntica ao flower power do final dos 60. Chico, de gel, smoking e camisa branca. E Gil no meio, de terno e blusa de gola, com grande elegância. Conforme a reportagem, Gil não sabia se ficava do lado dos entusiastas do uso da guitarra na música brasileira, como Caetano ou junto daqueles que eram contra a guitarra, como Elis Regina. Naquela época, em pleno auge da ditadura militar, saber de que lado estava artisticamente ganhava contornos políticos. O Brasil deveria ter influências da cultura americana?

E a maneira como esses 3 grandes artistas brasileiros estão na capa da revista é representativo também sobre a questão de que a arte tem mais importância que a política em certos momentos da nossa história. Caetano está à esquerda na foto. Sua roupa, sua atitude demonstram isso. Já Chico se veste da maneira mais reacionária possível já que tinha um certo compromisso de cultivar seu papel de mocinho no festival, o que apesar de ganhar gritos das garotas da platéia, em termos artísticos o tornava sem graça, De qualquer forma, seu comportamento no filme mostra que ele já não se sentia bem com aquela roupa e com aquele papel.

Por esse prisma, vemos que em momentos marcantes da política e cultura brasileira, Caetano sempre se postou à esquerda de Chico, em termos de atitude, apesar de até hoje Chico sempre se mostrar comunista e Caetano liberal, o que pra mim fica cada vez mais claro de que a cultura pop se encontra à esquerda do comunismo, simplesmente porque quem se encanta com os acordes de uma guitarra, nunca aceitará fascistas, como tanto Bob Dylan dizia.

Já nos anos 70 vemos que a diferença musical entre Caetano e Chico vai ganhando contornos mais emblemáticos. Caetano se aproximando do música americana e do rock britânico, conforme seus discos no exílio, além de suas parcerias com o Black Rio e Jorge Ben a partir da metade desta década. Chico, por sua vez, sempre se identificando com o samba da velha guarda, a música clássica e a bossa nova, gêneros há muito tempo já existentes no Brasil.

Bom. O que achei mais interessante do filme é a importância que o festival desse ano teve para o Tropicalismo se firmar na cultura popular brasileira. Isso é mostrado na maneira com que Caetano e Gil lembram desse festival com um grande carinho, como um momento em que a Revolução Cultural do final dos anos 60 ganhou seu lugar no Brasil. Emblemático o momento em que numa entrevista a Blota Junior, Caetano tenta remeter o Tropicalismo ao pop art e ao gibi, fenômenos considerados pró-americanos ou seja, tudo aquilo que a turma da esquerda da época rejeitava. Já Chico trata esse festival com um certo desdém, talvez por saber que o fato de ser o mocinho do festival de certa forma o representava como como o vilão reacionário contra todo o novo que vinha junto com o Tropicalismo de Caetano, Gil e os desconhecidos Mutantes nesse festival.

O filme é emocionante e divertido. Chorei quando ouvi Alegria Alegria, o que me remeteu à época do impeachment do Collor, quando essa música foi tema de uma minissérie, o que acabou contagiando novamente o País. No meu caso, para um garoto de 12 anos, mais representativo ainda. Lembro que nessa época escutei pela primeira vez uma coletânea de Caetano, um cd minha irmã, que naquele momento estava se caetanizando, com sua vida universitária no interior de SP. Esse cd é inesquecível, com certeza base artística para tudo que veio depois na minha vida.

Isso me remete a uma questão que um professor de cursinho, meio mala, nos perguntava. Quem seria melhor? Caetano ou Chico? Ele dizia que claro, Caetano era melhor. Nessa época, final dos anos 90, com Caetano se aproximando da música comercial brasileira, das novelas, eu, como todo estudante de cursinho, meio socialista, achava um absurdo considerar um cara que gosta de Sandy o maior artista brasileiro! Justamente esse foi o momento em que mais me distanciei de Caetano e me aproximei de Chico, talvez pelo fato de nessa época ter que ter um comportamento mais sóbrio pra conseguir passar no vestibular e do primeiro ano da faculdade, o mais difícil, como todos diziam.

Hoje 13 anos depois, posso dizer que meu professor estava certo. Conforme mostra esse filme, Caetano foi muito mais importante que Chico durante nossa Revolução Cultural dos anos 60. Ele foi o grande mentor e mártir do tropicalismo no Brasil. Mas como Caetano diz sempre e também no filme, tudo isso se deve a Gil, que é claro merece um capitulo a parte, que futuramente quero falar. Com certeza ele não é coadjuvante nessa história, ao contrário de Roberto Carlos nesse filme, talvez o único momento em que o rei foi súdito. Depois de ver esse filme, fiquei com orgulho de encontrar dias desses a ex mulher de Caetano, a Paula Lavigne, durante o show do Otto, e sem vergonha alguma, dizer que o Caetano foi meu grande mestre. Após uns 10 anos de raiva de Caetano, a cada dia que passa vou me conciliando com a música e a atitude de Caetano, descobrindo suas músicas obscuras, principalmente dos anos 70, época que acho que a música brasileira traduziu um pouco mais daquilo que o Caetano queria trazer com seu Tropicalismo, conforme os trabalhos de Jorge Ben, Mutantes, Novos Baianos e Gal Costa.

Agora me vem mais um momento marcante do filme. Ao ser questionado se ele se preocupava com a repercussão na Bahia sobre a utilização de guitarras nos festivais, Caetano responde brilhantemente: "O povo baiano é muito maior que isso." Ouvir uma frase dessa só me dá orgulho de saber que toda minha família paterna vem da Bahia. Fica mais fácil entender o que significa o verbo Caetanear, profetizado numa das mais belas músicas de Djavan, aliás, mais uma questão com que me deparei no vestibular. Dá vontade até vontade de cantar:

"O luar, estrela do mar. O sol e o dom, quiçá, um dia a fúria. Desse front virá lapidar. O sonho até gerar o som. Como querer caetanear o que há de bom ..."

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Nostalgia de Brasília, Beirute e do povo de lá





Engraçado como certas coisas do nosso passado ficam guardadas com carinho conforme o tempo vai passando. Com certeza Brasília pertence a essa categoria. Cidade onde passei meus primeiros meses de casado e local onde tive grandes parcerias etílicas, principalmente com o pessoal do meu antigo trabalho. Adriano continua vivendo lá e sempre comenta de suas andanças pela cidade, o que acaba se tornando momentos de nostalgia para mim. Hoje, após mais um comentário dele, fui remetido ao Beirute, que apesar dos funcionários públicos mais reacionários dizerem se tratar de um bar gay, na verdade é um tradicional bar brasiliense que freqüentava assiduamente no ano que fiquei por lá. Próximo ao Eixão e das quadras comerciais estilosas do Plano Piloto, concentra muitos jornalistas e funcionários públicos mais ligados a ministérios culturais e sociais do governo.

Era sempre muito bom ficar bêbado a base das greens heinekens bem geladas e laricóides como porção de homus com pão árabe. Por ser dos anos 60, assim como Brasília, apresenta algumas similaridades com bares da Rua Augusta, Pinheiros ou de Copacabana, talvez por conta de seus letreiros e azulejos. Claro que o fato de ser aberto, o torna mais confortável que os bares paulistanos e cariocas, também por contar com os grandes espaços que o plano piloto conseguiu preservar ao longo do tempo. Com certeza ta entre as coisas que mais me trazem boas lembranças da Capital, junto com o Arena, o Bilhar com rock’n roll, o Cine Brasília, e a Chapada dos Veaderos.

Quando cheguei ao Rio, ao contrário de Brasília, tive um entusiasmo nos primeiros momentos que vivi por aqui, principalmente por sua música e suas praias. Porém, logo depois entrei em depressão. Pensava que encontraria pessoas tão interessantes por aqui como eu tinha em Brasília. Porém, muitas das pessoas que conheci por aqui preferem correr a beber, o que, para um atleta do álcool, as tornavam as totalmente sem graça. Tive que forçosamente entrar para a vida adulta, o que profissionalmente me fez muito bem, já que não acordo mais de ressaca durante a semana e me obrigou a pensar mais no futuro e de certa forma me fez olhar para as necessidades e os prazeres que existem nesse meu momento de vida, como fazer atividades físicas e ficar mais em casa.

Mas a verdade é que vejo que tive muito mais identificação com o povo de lá. Na verdade, ninguém é de lá. A grande maioria das pessoas que conheci eram pessoas que vinham de vários cantos do Brasil por conta dos concursos públicos, motivo que acredito torna a cidade tão interessante e talvez cosmopolita. Talvez uma universidade pública para quem já está formado, com pessoas com grande formação cultural e que trazem um pouco de sua experiência de lugares tão diferentes do País.

Sempre que me perguntavam sobre o que eu achava de Brasília, fazia duras críticas a cidade, principalmente por 2 motivos unicamente físicos. Sua distância de SP e seu clima seco. Nunca considerei a cidade ruim por conta de seus problemas de corrupção, talvez pelo mesmo motivo que a violência do Rio e o caos de SP não fazem parte dos meus métodos de avaliação da qualidade de uma cidade. Mas posso dizer que pouco valorizei certos aspectos humanos desta cidade. Seria muita ingenuidade minha não admirar uma cidade que formou nossos grandes heróis do nosso rock nacional, como Renato Russo, Herbert Vianna e Cássia Eller.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Overdose de Informações

Uma da manhã. A madrugada promete ser longa. To mais ou menos fazendo as mesmas coisas que venho fazendo nas últimas noites. TV ligada na CNN, pra tentar melhorar meu “Listening”, apesar de estar prestando atenção em outras coisas, principalmente matérias de jornais antigos, que se acumulam por se tratarem de temas tão interessantes, mas ao mesmo tempo cada vez mais difícil de ler, já que a informações disponíveis na internet costumam ser mais atraentes. Com essa overdose de informação, a confusão na minha cabeça parece estar no mesmo nível das bagunças que se instauram em casa.

Apesar disso, e da minha dor de cabeça que me deixou sem condições de fazer nada o dia inteiro até às 6 da tarde, posso dizer que esse fim de semana foi produtivo. Muita coisa ainda pra organizar, principalmente as informações da minha última viagem que ainda não consegui ir atrás. Junte-se a isso coisas do trabalho que gostaria de ler nesse fim de semana e um livro de inglês que gostaria de estudar, e do sax que gostaria de treinar. Passei longe de todas essas coisas. De qualquer forma, o quartinho do fundo e o quarto do entretenimento/visitas parecem bem mais organizados, claro que com a ajuda da Juliana.

Inclusive esses dois dias direto em casa (algo que não fazia há meses), foi bom pra gente ver o quanto de coisas não usamos e que estão se acumulando num apto de 60 m2 e que praticamente não mexemos. Acho que faz parte do fato de que em toda a nossa vida vivíamos em casa e podíamos juntar bagunça por mais de 10 anos...

Também consegui ver 2 filmes nesse fim de semana. Uma verdadeira conquista! Nesses tempos de 10 lançamentos no cinema a cada fim de semana e o baú de obras primas cada vez mais a nossa disposição por conta dos torrents, o excesso de informação vem me consumindo. Tenho uns 100 filmes pra ver ou organizar as legendas, que ajudam nessa sensação de desordem na minha cabeça que venho sentindo nesses últimos dias. Preferi não mexer nesses entulhos e alugar direto na locadora, que é do lado de casa e tem delivery!!! Por módicos 10 reais, assisti 2 filmes que tratam de temas que sempre me interessaram. A leste de Bucareste, mais um filme que tenta falar sobre os últimos momentos do comunismo na Romênia. Na mesma linha que Adeus Lênin, mas não tão interessante nem tão engraçado, é mais uma maneira de entender essa região estranha da Europa, que quase ninguém fala a respeito, que fica bem nessa confusão toda entre mundo ocidental e mundo árabe e ex-mundo socialista. Também vi Na Era da Inocência, do mesmo diretor de Invasões Bárbaras. O cara conseguiu fazer um filme mais deprimente ainda. Apesar disso, achei as reflexões desse filme bem atuais, apesar de ter absoluta certeza que meu espírito está longe de ser contaminado por uma visão tão pessimista da nossa existência. Apesar de Era da Inocência ter um final de esperança, Invasões Bárbaras me pareceu muito mais leve e real.

O fim de semana teve diversas visitas aos fóruns da internet. Sempre aprendendo muita coisa pela web. Uma visita ao Outback, é sempre bom, dessa vez até melhor, porque não caí na tentação de comer aquela cebola deliciosa e gordurosa. Ter ido direto na salada me deixou com a consciência mais tranqüila, apesar de saber que não fiz atividade física nenhuma, um crime pra quem está acima dos 100kg. Entretanto não pus uma gota de álcool, o que pode ser considerado uma evolução, apesar da dor de cabeça ter me atacado como de costume. O Palmeiras não deu vexame no Nordeste, o que pode ser considerada uma boa notícia pra um palmeirense cansado de derrotas como eu. Mano Menezes é o novo técnico da seleção. Cara novo. Estava no lugar certo na hora certa. O Brasil sempre foi famoso por pessoas diplomáticas em seus postos mais altos. Colocar o nervoso Muricy seria repetir o mesmo erro de Dunga na seleção. Deus escreve certo por linhas tortas.

Bom. Esse é meu primeiro post de verdade nesse blog. Espero atualiza-lo sempre. Tenho vontade de escrever um monte de coisa que penso. Quem sabe esse é o melhor canal. Também quero compartilhar as coisas que gosto, tipo músicas e essas pinturas que pus no outro post. Quando tiver sem paciência pra escrever, posto essas coisas mais interativas. Mas a mensagem do post é essa. Muitas coisas pra fazer, muitas coisas a serem organizadas. Apesar de não me fazerem mal, espero que essa sensação de bagunça na minha vida dê um pouco de trégua. Bom. Um item a menos a me preocupar! Consegui escrever meu primeiro post no blog!!!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

de uma reportagem do Estadão desses dias

Leger




Jasper Johns


Robert Rauschenberg



Frank Stella





Kandinski



David Salle



Pollock




Willem de Kooning


Sidney Janis




Mondrian



De Stael



Dubuffet






Kline






Lanskoy