segunda-feira, 13 de setembro de 2010

É proibido fumar, Anos 70 e Jorge Ben





E estou orgulhoso da minha performance cinéfila. Nas últimas semanas venho vendo muitos filmes como há muito não fazia. Após rever Táxi Driver, sábado à noite passou no TCM uma sequência de Brian de Palma que ainda não tinha visto. Vestida para Matar e Carrie, a Estranha. Aproveitei a seqüência setentista e ontem assisti o Massacre da Serra Elétrica. Achei esses 3 últimos filmes muito interessantes, apesar dos roteiros pouco criativos, talvez por serem voltados a adolescentes das década de 70. Mas gostei da tensão. Da lentidão como as cenas acontecem, do suspense, da câmera. Não sei, mas sinto que os filmes atuais são muito dinâmicos. Perde-se as pequenas coisas que conseguimos entender apenas naqueles momentos em que se aprecia a cena, a conversa, o silêncio.






E por falar nos 70, ontem também revi É Proibido Fumar, filme que foi muito premiado ano passado e teve certo sucesso nos meios mais engajados do cinema nacional. Apesar do tema do cigarro ocupar certo espaço, na verdade o filme trata mais de um tipo de relação, que assim como o cigarro, cada vez mais vai se perdendo com o profissionalismo do cotidiano, com seguranças ao invés de porteiros. Por essa volta ao passado, muitas cenas do filme remete a minha infância, nos anos 80, como no diálogo entre as irmãs, a vizinhança, a família, as festas nas salas da família. Baby, interpretada por Gloria Pires, é professora de violão. Me lembrou muito as aulas que tive de piano ainda criança.










O filme também faz uma homenagem particular à música dos 70. O filme começa justamente com um dos sons que mais gosto: Taj Mahal, mas a versão setentista, no violão, que adquire um ritmo único, com maior intensidade, maior vibração. Inclusive a versão do filme é do disco que Jorge Ben fez com Gil, que já falei num post anterior. Logo depois, Max, interpretado de maneira impecável por Paulo Miklos, toca no violão e canta de maneira titânica Chove Chuva e, quando interrogado por Gloria Pires, põe na vitrola um clássico obscuro de Jorge Ben dos 70, Que Nega é Essa...Depois, durante uma conversa, Max diz o seguinte:







“Os anos 70 foram o futuro. E ai passou 40 anos e o que? O mundo voltou pra traz... A gente está vivendo o passado de novo... Eu vi o Rei jogar. Não é um bando de balofo, trocando de time toda hora. É amor à camisa...” e começa a tocar: “ o amor do príncipe Shah-Jehan pela princesa Mumtaz Mahal. Te, te, tererete,.”






Já tinha ouvido falar muito dessa história. Mas depois que escutei pela primeira vez um disco do Jorge Ben dessa época e os outros que fui descobrindo, como os discos de Tim Maia, Caetano, Gal, tudo parece realmente se encaixar. A música realmente era algo grandioso, que não sei porque me atinge quase que de uma maneira religiosa. Parece que escutar Jorge Ben me faz acreditar mais em Santa Clara, Santo Thomas de Aquino e São Jorge. E inclunive, uma das mais tocadas no Ipod atualmente é uma música chamada Deus é Amor, de Jorge Ben, cantado por Gal.

“Deus é a vida. A luz e a verdade. Deus é o amor. A confiança e a felicidade”.






Quem lê parece um sermão religioso. Mas na versão de Jorge Ben, tudo vira um hino, uma festa black.

Me identifiquei também com outras cenas no filme. Num outro diálogo, Baby diz que prefere Chico, que é politizado e tal. Daí Max comenta algo que sempre pensei. “O Chico é muito devagar, lento...” Sempre tive essas discussões musicais e políticas... Em outra parte Max ta tomando um café, falando sobre futebol na padaria de esquina de Pinheiros de SP. Quem já tomou um cafezinho despretensiosamente numa padaria de bairro de São Paulo vai entender o que estou falando...





No figurino, mais uma homenagem aos anos 70, dessa vez através de camisetas que Max usa, com o símbolo da boca do Rolling Stones, da banana do Velvet Underground, além de um Jaqueta de Jimi Hendrix.




Enfim. 2ª vez que vejo esse filme, e saio tão bem quanto na primeira vez. Fazia tempo que uma ficção brasileira não me deixava tão entusiasmado. Tudo bem. O Cheiro do Ralo e Árido Movie são tão geniais quanto. Mas esse teve Jorge Ben dos 70 como trilha do filme. Não tem como não ser especial. E o filme é feliz, trata de 2 pessoas que parecem que ainda vivem nos 70, apesar do mundo ter mudado, o que no caso de Max, ainda não voltou aos níveis de 70. E parece que ele está certo. Olhando o filme parece que algumas coisas que hoje não damos muita importância, era muito valorizada antigamente, como no caso de Baby brigando pra conseguir herdar o sofá da tia.


Enquanto isso, continuo varrendo o baú dos 70, que como Diogo disse parece ser o foco do blog.

2 comentários:

  1. Porra, achei "Cheiro do Ralo" uma merda. Essa sua colocação, lá no finalzinho, põe abaixo o texto todo, que já tinha me convencido que o filme era legal – mesmo sem ver. rs.
    Parabéns por mais um post excelente!

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  2. Parei um pouco com as pre(ocupações) do labor para ler este post...
    Como já era de se esperar, meu trabalho dispersou...

    Mas já que estou aqui, aproveito essa longa pausa para fazer uma pequena observação sobre a música Taj Mahal... Que, aliás, adorei na versão com o Gil !

    A letra dessa música diz tudo sobre a mais linda história de amor, já vista e admirada... Essa história é realmente... te teterete...

    Sim ! As grandes histórias de amor são simplesmente indecifráveis....

    Abraços !!!

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