segunda-feira, 18 de abril de 2011

Carnaval à Paulista e a descoberta do centro velho de SP

E estava bem animado com minha primeira participação na Virada Cultural. Afinal já faz alguns anos que meus amigos freqüentam esse evento que muitos já consideram o carnaval do paulistano. Cheguei no Centro por volta das 9 da noite, na estação da Luz com o Henrique, irmão do meu cunhado. O cara é fã do Frank Zappa e vem me mostrando vídeos legais do cara no Facebook. Ele tava com um amigo, também na faixa dos 50, que ficou surpreso com a beleza daquela estação, que fazia uns 30 anos que ele não a via. Por abrigar atrações menos populares, aquele espaço estava altamente agradável, num ambiente super tranquilo, familiar, inclusive com bancos para as pessoas se sentarem. Não conhecia nada do que tava rolando, mas foi legal ver um tipo de som diferente de tudo que já tinha escutado.






Deu 10 da noite e peguei metrô rumo à República, já que Diogo, Zelao, Dener e as respectivas já estavam no palco da São João pra ver o show do Skatalities, que começaria às 11 e era uma das atrações que estava mais a fim de ver. Saio do Metrô e percebo que nunca tinha caminhado por aqueles cantos num fim de semana à noite. Reparei como a região da República fica maravilhosa sem aquela desordem típica do centro durante a semana. Diversos prédios de uma época em que aquela região era o centro cultural da cidade. Dá pra reparar na diferença em relação ao Centro do Rio, região que trabalho atualmente e que também fico maravilhado quando passo diariamente por suas ruas estreitas e prédios centenários. Ter atravessado a praça rumo à São João me lembrou muito das minhas andanças à noite pelas praças de Nova York. Será que um dia pode acontecer com nosso Centro o mesmo que aconteceu com a Broadway em Nova York, que após viver uma decadência nos anos 70, hoje é um dos maiores pontos turísticos de Manhattan? Será que a noite da Augusta dos tempos atuais, com suas milhares de tribos, não pode descer sentido ao Arouche à 120 por hora?







Ia chegando rumo à São João e via que os ânimos estavam exaltados. Policial algemando um cara e muita gente já num estado etílico digno dos grandes carnavais. Esbarrei numa menina e do nada ela me xinga de filho da puta. Vejo que caiu no chão uma migalha de maconha que ela deixaria de fumar. Clima quente mesmo sabendo que era um show de uma banda que acompanhou um dos grandes líderes da paz do último século. Tumulto generalizado, principalmente porque resolveram colocar uma banda de destaque pra tocar numa rua estreita como a São João. Dá pra ver o amadorismo do paulista para fazer grandes festas populares. Me lembrou como o carnaval nas ruas estreitas do Botafogo são terríveis se comparados com os carnavais da Cinelândia, Praça XV, Copacabana e Ipanema no Rio de Janeiro, onde há espaço pras pessoas dançar, conversar e se divertir.







Nunca tinha passado por uma multidão como naquele instante. Pra chegar perto do palco foi um sufoco danado. Pra sair, na metade do show, pq não havia um único banheiro próximo ao palco, foi um stress maior ainda. Foi como pegar Metrô sentido Corinthians Itaquera às 6 da tarde numa tarde de temporal, por um período de 30 minutos. Foi um momento muito tenso. Pensei que poderia rolar alguma coisa pior. Uma pena, porque o show estava excelente!







Atravessamos o Arouche sentido República e vi o Ritchie tocando “A Vida tem Dessas Coisas”, que ouvi pela primeira vez na versão do Ira! Ao passar por aquele reduto gay, fiquei imaginando o choque de realidade que muitos paulistanos tiveram com os freqüentadores assíduos daquela região. Ambiente super democrático, bem diferente do que ultimamente costumamos ler nas páginas policiais. Chegamos na República e Toni Tornado estava no palco, tocando um black music da melhor qualidade: “A luta continua”. Foi muito bom escutar Primavera do Tim Maia ao lado dos meus amigos vendo aqueles prédios antigos da República, que são impossíveis de reparar durante a semana. Saímos antes do show terminar, porque Diogo queria ir no show da Marina. Encontramos mais amigos por lá, mas não deu pra escutar absolutamente nada do show dela. Não sei se por conta da voz rouca dela ou da caixa de som, ou da distância do palco (O Arouche é tão estreito quanto a São João).







Por conta disso, fomos tentar ouvir o cover dos Beattles, já que naquela hora eles já deviam estar passando pela fase psicodélica da banda de Liverpool. Atravessamos a boca do lixo da Rua Aurora pra depois cruzar com a esquina mais famosa de São Paulo. Passamos novamente pela Bela República, revi depois de uns 15 anos a Galeria do Rock e chegamos no Boulevard São João,lugar que nunca tinha passado e que me surpreendi pela sua beleza. Infelizmente não dava pra escutar nada do que aquela banda tava tocando, já que não dava pra chegar mais perto da caixa de som. Aproveitei que estava cansado e tomei o rumo de casa. Parei pra comer um segundo pastel, dessa vez de pizza. Outra coisa boa de estar em SP. Caminhei sentido metrô Anhangabaú, e passei pela maravilha do Shopping Light, Teatro Municipal e Pça Ramos de Azevedo, que meu pai costuma dizer que foi o grande urbanista de SP. Claro que peguei muvuca pra entrar no Metrô Anhangabaú. Parecia gado indo pro abate.







Enfim. Após viver 27 anos em SP, e agora 3 anos no Rio, vejo o quanto os ânimos na paulicéia são mais exaltados que os cariocas nesses eventos culturais. Dá pra fazer uma comparação com a guerra entre as torcidas em SP, que são muito piores do que vemos no Rio. Tudo bem, no Rio tem a praia, o samba, a Lapa, que relaxa qualquer um. Por outro lado, muitas bandas de rock pesado acabam inflando os ânimos da galera. Também deve ser o fato de SP ser o túmulo do samba. Enquanto Rio e Salvador tem carnaval há mais de 100 anos, não há grandes eventos em SP a não ser nos shows no Morumbi, que elitizam seu público da mesma maneira que o abadá em Salvador. SP tá engatinhando no quesito festas populares.


Fica a dica para os organizadores de que a Virada pode ser um momento mais pacífico e artístico se houvesse um planejamento melhor, com palcos melhores localizados. Porque não colocaram grandes bandas pra tocar em lugares amplos, como o Ibirapuera, a Paulista, a USP e o parque da Independência? O centro velho claro que deve continuar tendo shows, mas com bandas menores.







Apesar de tudo, foi muito bom caminhar pelo Centro de SP. Deu uma grande sensação de esperança. De comprar um apto por aquela região caso num futuro próximo aquilo lá volte a ter seus tempos de glória. Parece que o Centro de SP tem jeito. Aproveito pra dizer que no dia anterior, fui no Poupa Tempo tirar minha segunda via do CNH. Peguei a senha e me falaram que me chamariam em 2 horas e meia. Voltei no horário programado e não houve um atraso. Admiro a eficiência da cidade de São Paulo. Mas ainda oa paulistas poderiam aprender bastante a fazer festa com cidades como Rio e Salvador. Que novos bahianos te podem curtir numa boa...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Raul, Renato, Eduardo e Monica

E o legal desses anos em que discografias completas estão a preços banana, é que eu posso ficar anos sem escutar uma banda e de repente, ela volta a tocar meu ipod como se estivesse estourando novamente nas rádios. Ano passado, como venho fazendo com diversas bandas, baixei despretensiosamente toda a discografia de Raul Seixas e Legião. Além de descobrir o lado B do lado B, resgatei na minha mente coisas que adorava e que estavam guardadas num cantinho das minhas lembranças. Lembro que o disco O Descobrimento do Brasil da Legião foi um dos que mais tocaram no meu ipod ano passado, muito por conta de um trecho de uma canção: “O sistema é maus, minha turma era legal, viver é foda, morrer é difícil, ter ver é uma necessidade. Vamos Fazer um Filme..."






Tempos depois, me vi caindo na melancolia do Quatro Estações. Talvez só ano passado fui entender realmente o que Renato Russo queria dizer em Meninos e Meninas: “Quero me encontrar, mas não sei onde estou. Vem comigo procurar algum lugar mais calmo, longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita... Tenho quase certeza que não sou daqui...Preciso de oxigênio, preciso ter amigos. Preciso de dinheiro, preciso de carinho... Acho que gosto de SP, gosto de São João, gosto de São Francisco e São Sebastião”






De repente, em meio a tanta turbulência, encontrava eu num bar que tocava rock nacional da Lapa. Após tantas e outras, me vi pedindo desesperadamente pros caras tocar Raul e eles vieram com Sapato 36. Era tudo que eu precisava ouvir pra deixar de usar aquele sapato que tanto me incomodava. Até hoje é uma das canções mais tocadas, junto com Rockixe, que me fez lembrar o quanto é legal usar uma calça colorida e um novo way of life. Sim. “Aprendi a ficar quieto e começar tudo de novo”.






Já em 2011, com tudo mais calmo, Leandra manda no Facebook Andrea Doria, uma música que tinha pouco escutado, já que era um lado B do disco 2, que me faz lembrar dessa fita cassete dos meus irmãos na época que tinha 7 anos. Lembro até hoje no carro da família, com meus 2 irmãos e meus pais, momento raro, já que depois minha irmã começou a namorar e a partir daí sempre que íamos viajar, nos dividíamos entre o carro do meu pai e do meu chamado “futuro cunhado”.







Foi lá que escutei pela primeira vez Eduardo e Monica. Me identifiquei logo com a música, afinal era uma canção que levava o nome do meu irmão e da personagem dos gibis do Mauricio de Souza que já era fã. Claro que além daquela canção ser um folk tão bom quanto o melhor de Dylan, incorporava em sua letra assuntos pop, como o que Caetano fala na sua música Alegria Alegria, no filme Uma Noite em 67.






O engraçado é o quanto eu tinha de Eduardo naquela época, já que gostava de novela e jogava futebol de botão, não com meu avô, apesar dele ser altamente presente naquela época. Em muito sentido ainda continuo Eduardo, afinal ainda freqüento as aulinhas de inglês. De Mônica posso dizer que ela me influenciou positivamente em abstrair com mais facilidade uma cultura um pouco mais erudita. Passargada me inspirou no cursinho. “Lá, Sou Amigo do Rei.” Por conta das cores únicas em seus quadros, como sua loucura e seu fim trágico, Van Gogh sempre me intrigou desde a infância. No ginásio já era fã de Caetano e, na faculdade, de Mutantes. Da escola de design de Bauhaus, Adriano e Ju já comentaram a respeito. Adoro falar sobre o Planalto Central, também magia e meditação. Por outro lado, sempre adorei o esquema escola, cinema, clube, televisão. Da mesma forma Godard continua ininteligível pra mim até hoje.







Enfim. Depois de ter tocado com grande sucesso no aniversário do Diogo, essa canção voltou a tocar fortemente nos últimos dias, principalmente porque além de tudo que falei, ela se parece muito com a minha vida ao lado da Ju. Muitas vezes eu sou o Eduardo, ela é a Mônica. Muitas vezes é o contrário. Nos revesamos em explicar "coisas como o céu, a terra, a água e o ar. Além do mais, todo mundo diz "que ele completa ela e vice-versa que nem feijão com arroz..."






“E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão...”